sábado, 29 de novembro de 2008

A arte de saber a hora de partir


Ontem, em uma conversa informal, ao falar brincando sobre os meus dois casamentos, e ao afirmar que me casarei quantas vezes forem possíveis, uma colega me perguntou: 'por que você insisite, se já sabe que o final não será bom?' E eu me espantei! Me espantei com a colocação triste, porque eu não enxergo dessa fora. Me espantei porque senti uma desesperança na relação afetiva.
Tentei, rapidamente, mostrar a essa pessoa que não foram situações tristes ou ruins, e que não me arrependo de nenhum dos meus dois casamentos, ou sequer de qualquer relação afetiva que já tive. Como posso me arrepender do meu primeiro casamento? Ele me deu um filho maravilhoso e tive muitos bons momentos ao lado do meu primeiro marido. Momentos de amizade, de compreensão, de cumplicidade, de reflexões.



Ahhh e o que falar do meu segundo casamento? Esse nasceu da paixão pelo conhecimento. Me apaixonei pelo seu intelecto, a princípio. Me apaixonei pelos seus textos, seus pensamentos e sua determinação. Vivemos dois anos juntos, mas foram dois anos interessantíssimos. Cheios de longas conversas sobre Marx, Spinoza, Nietzsche, Neruda- - quantos poemas não lemos juntos!!
E o mais importante, o meu segundo marido, a quem chamo de Che Guevara, devido à sua ideologia, me ensinou que precisamos ficar atentos ao momento de partir, para que a relação não se deteriore e, então, passamos a nos lembrar apenas dos maus momentos e esquecemos tudo de bom que passamos juntos daquela pessoa.
Sei que é complicado. Mas essa lição é uma das mais valiosas que aprendi com o 'Che'. Aprendi que quando algo começa a incomodar na relação, devemos abrir mão do 'estar junto'. Muitas vezes, o insistir é puro egoísmo ou capricho e esses dois quesitos não combinam com amor.
E o que é o amor? Para Tagore, "O amor é um mistério sem fim, já que não há nada que o explique"... Talvez, por isso, temos tantos poetas que tentam explicá-lo... tantos romancistas que tentam mostrá-lo... Não o explicamos, mas o sentimos... E o querer viver junto, compartilhar o dia a dia, é apenas uma consequência desse amor...
O importante é que sempre lembremos de outro poeta, mais próximo de nós, que disse sabiamente as palavras abaixo e não nos esquecermos jamais, que amar sempre vale a pena!

"De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Soneto da Fidelidade, Vinícius de Moraes

(escrito em 29/11/o8)

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