quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Amor é feito espelho: tem que ter relfexo!

“Se sou amado,
quanto mais amado,
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também.
Pois amor é feito espelho: tem que ter reflexo.”
Pablo Neruda
Feliz daquele que viveu esse sentimento e, mais feliz ainda, aquele que foi correspondido. Amar é bom e ser amado pelo amado é a felicidade plena, ou como disse Nando Reis: é redenção. Fiquei profundamente emocionada com o cantor e compositor em um vídeo postado em sua Fanpage, no qual revelou:  

"Se uma pessoa que você gosta, gosta de você, é a redenção. É isso que você procura na vida. Por que você namora? Por que você se casa? O que você quer? Eu quero isso:alguém que goste de mim e que eu goste dela!" 
Ao final, ele interrompe a fala embargada de emoção. 


Só quem viveu o que Nando chamou de "redenção" sabe e entende o porquê dessa emoção!
Por que escrevo hoje sobre o tema? 
Voltei a me lembrar da fala do cantor ao ser convidada para palestrar essa semana em uma mesa sobre o assunto, quando abordei o "Amor e a Filosofia". Pensei em vários pensadores modernos, mas "O Banquete", de Platão, sempre me inspirou sobre o tema. As colocações dos convidados do poeta Agatão: Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes e Sócrates são inspiradoras e revelam como o amor é singular. Ou seja, particular para cada um. 
No entanto, o início do discurso de Sócrates, ao se dirigir a Agatão com suas famosas perguntas, sempre me chama a atenção quando releio a obra. Agatão afirmou que o amor é amor a algo, e Sócrates questionou: 
"De qual “algo” será o Amor?" 
"Será que o Amor, aquilo de que é amor, 
ele o deseja ou não?" 
“E é quando tem isso mesmo que deseja e ama
 que ele então deseja e ama, ou quando não tem?”

Mas será que é possível significar o amor? 
Ou será que só conseguiremos levantar perguntas sobre o tema?
Amamos algo que nos falta ou amamos a própria falta?
Ou será que amamos apenas o amor, o conceito de "amor"?
No meio da minha explanação, o moderador da mesa me interrompeu e perguntou: você já amou? você já foi amada?
Em meio aos risos da plateia - todos amigos e amigas - engasguei, mas aceitei o desafio e retruquei: "O que você chama de amor?"
E a sua resposta me tocou profundamente: "amor é olhar na mesma direção. É nunca estar só, mesmo quando o outro está distante".
E depois de um: "ohhhhh" da plateia.
Não tive dúvidas e disse: "Sim! Amei e fui amada em dois momentos da minha vida".
A plateia ficou em silêncio com a minha resposta e, assim, dei continuidade à palestra com foco no texto de Platão e seus personagens. Foram mais cinco minutos de completo silêncio. Um silêncio tão ameaçador, que estremeci quando foram abertas perguntas ao público. 
Várias foram as questões, desde quem foram os meus dois amores (não respondi) até se eu tinha uma receita mágica para viver, pelo menos uma vez, o amor. Respondi divertidamente a todas elas. Quando o moderador anunciou que a próxima seria a última pergunta, não poderia imaginar que seria a mais interessante: "como você reconhece o amor?"
Após uns segundos, respondi:
 --- O amor, como disse e como retrata os personagens de Platão, é muito particular. Acredito, como você, pela sua pergunta, que o amor é mais do que sentir. O amor é realmente reconhecer. E para responder ao seu questionamento, peço licença para usar as belas palavras de Neruda, que na minha opinião, é o poeta que mais soube falar sobre o tema. Neruda disse que "amor é feito espelho: tem que ter reflexo". E quando você não tem o reflexo, você  vai buscar, mesmo sem querer, outro espelho.

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