Toda
vez que sinto a necessidade de organizar meus pensamentos, lembro-me de um
desenho do Pato Donald no qual ele imagina a sua mente como se fosse um grande
arquivo bagunçado. Quando percebe isso, ele se concentra e o que nos é mostrado
é uma arrumação desenfreada, na qual ele arquiva cada papel em seu devido lugar
e, para finalizar, coloca uma foto da Margarida em destaque em cima dos
armários.
Como
seria fácil se fosse assim.
Essa
imagem ficou tão forte na minha cabeça que sempre faço isso, quando me sinto
confusa. Mas colocar tudo em seu devido lugar é algo que exige muito autoconhecimento. Depois de alguns acontecimentos em minha vida, decidi
cursar Filosofia. A cada aula e pensador eu me sentia mais feliz. Na
verdade, eu me encontrei na Filosofia. Identifiquei-me com alguns filósofos ao
longo do curso como, Foucault, Nietzsche, Sartre, Wittgenstein e muitos outros.
Mas
quando estava quase no último ano, fui apresentada devidamente ao filósofo Martin
Heidegger. Fiquei tão fascinada pela obra “Ser
e Tempo” que a devorei em alguns dias e, desde então, é a minha Bíblia, meu
livro sagrado. A partir daí, iniciei um longo trabalho sobre o pensador e suas
obras. Era como se ele – por meio da sua filosofia – estivesse me respondendo a
muitas das minhas perguntas mais significativas, principalmente no que se referia
ao tempo, à morte e ao viver. Passei a entender muita coisa sobre mim e a minha
constante angústia, ou melhor, o meu “vazio", ou p meu "nada”.
O que
mais me chamou a atenção na sua obra máxima (“Ser e Tempo”) foi a diferenciação que o autor deu para a angústia
ôntica e a angústia ontológica. A primeira tem uma causa identificada, fruto do
intramundano, da decadência das atividades da cotidianidade e é curável por
meio de ferramentas apresentadas pelo mundo tecnicista que tem como finalidade
principal ‘coisificar’ o homem e levá-lo à impessoalidade e, consequentemente,
à fuga de si mesmo, sem jamais conseguir entender o seu verdadeiro modo de ser.
Já a angústia ontológica vem do nada, do vazio, que vem do ser enquanto ser e possibilita
o contato com o nosso verdadeiro ser. Aquele que devemos ser e não o que
desejam que sejamos.
A
minha briga interna sempre foi entender porque me
sujeitei a tantas coisas para “ser aceita”. E após um episódio triste, cheguei
à conclusão que havia chegado o momento de me aprofundar nessas questões, pois,
caso contrário, continuaria a repetir os mesmos erros em todas as minhas
relações, fossem afetivas, familiares ou profissionais.
Foi
justamente nesse momento que decidi cursar psicanálise e, com o curso,
iniciei o meu processo de análise pessoal. A primeira sessão foi um
desastre, mas eu
só consigo perceber isso hoje, após mais de um ano. Eu cheguei ao
consultório
com muito medo e fiz de tudo para não passar esse sentimento à analista.
Durante
toda a sessão, tentei provar que era resolvida e que nem sabia
por
que estava ali. Grande bobagem, porque há pessoas que nascem com o dom
de ler o
outro; e a minha analista tem esse dom.
Foi um
dos momentos mais constrangedores que passei. E descobri como é difícil falar
sobre nós o tempo todo de uma maneira verdadeira; sempre queremos impressionar,
parecer muito melhor do que realmente somos. A minha solução foi tentar me
descrever e usando toda teoria filosófica que havia acumulado.
Claro
que não consegui explicar para a minha analista a diferenciação das
angústias e que o meu vazio era ontológico e não melancólico. Sinto que até hoje, muitas pessoas
não
compreendem esse meu conceito emprestado de Heidegger. Mesmo porque
Freud, o Pai da Psicanálise e o meu objeto de estudo no momento, define
angústia como melancolia.
Mas
esse fato foi o menos – e ainda o é – importante daquela primeira sessão. Eu
procurava me esconder usando teorias filosóficas e até frases desses pensadores.
Na verdade, eu estava com muito medo de me desvelar para mim, porque pra ela,
eu já estava desvelada.
Depois
de quase uma hora, consegui me abrir e disse que precisava
entender o porquê eu sempre cometida os mesmos erros em relação aos homens,
mesmo sabendo que eram erros. E foi
então que a análise começou a fazer algum sentindo, naquele momento.Foram muitas sessões até eu começar a entender alguma coisa e, recentemente,
uma pessoa que trabalha comigo disse que me achava muito resolvida em questões
do coração. Pode ser que hoje eu seja melhor resolvida, mas estou longe de
estar em paz, e disse a ela:
- Na teoria, tudo é muito fácil e bonito; mas
eu ainda estou tentando colocar tudo isso em prática.
As
minhas gavetas continuam abertas e muitas não consigo ainda arrumá-las.
Mas consegui esvaziar algumas e arrumar outras. Ou seja, consegui definir o lugar adequado das meias e da roupa íntima.
E essa
arrumação começou com o fim de um relacionamento, que era bom, mas não o que eu
queria.Fui muito feliz, mas em algum momento me perdi e precisava me reencontrar.
E o
que eu quero?
Seguir
o meu desejo e construir algo que seja realmente meu!
Vou
conseguir?
Não
sei.
Mas um fato já é claro para mim: nada acontece no tempo errado.
O processo de análise continua e, como psicanalista, será eterno.
Cada sessão é uma descoberta nova!
Um novo desafio!
Um novo momento a ser experimentado!
O que eu quero com isso?
Repito: ser o meu próprio desejo!
Uma tarefa nada fácil, mas tenho conseguido.
Não quero mais usar máscaras com ninguém.
Não tenho mais medo de falar o que penso ou sinto, o que assusta muitas pessoas.
Que assim seja, então!
Uma tarefa nada fácil, mas tenho conseguido.
Não quero mais usar máscaras com ninguém.
Não tenho mais medo de falar o que penso ou sinto, o que assusta muitas pessoas.
Que assim seja, então!
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