quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Rei da França é calvo... falso ou verdadeiro?


Antes de responder a essa questão - que parece simples - é preciso contextualizá-la. Pois bem... muitos são os professores interessantes nas aulas da Filosofia... mas um, em especial, supera os demais. Isto porque ele coloca o filósofo no patamar de ‘ser humano’. Acreditem: um filósofo é um ser humano! Sei que é difícil de acreditar, mas é a pura verdade. E diante dessa grande revelação, eu, alguém que caiu na filosofia por acaso – ou por paixão a alguém e ao conhecimento, passeio pelo campus da faculdade a observar e a prestar muita atenção no ‘que meus irmãos dizem’.




E fico cada dia mais impressionada e me questiono sempre: Se faz filosofia para quem? Por quem? O meu interesse pela Filosofia é antigo, mas foi reforçado com o meu segundo marido, ‘Che’. E, após o nosso fim, achei que estar na Filosofia era como estar um pouco com ele. E assim me sinto: conversando com ele cada vez que leio um novo texto ou ouço uma nova explanação. Ontem o meu ‘diálogo imaginário’ com ele foi justamente esse: para quem os filósofos escrevem? Questão que mexeu com os meus conceitos sobre o ato de escrever, após um aluno perguntar a um professor que apresentava a filosofia de Wittgenstein, para quem o filósofo escreveu. A resposta foi: "para a comunidade filosófica."
Aí está a diferença entre o filósofo e o comunicólogo. Nós, comunicólogos, escrevemos pra
muitos, ou pretendemos isso ao elaborar os nossos textos, inclusive os mais analíticos. Nesse exato momento, me lembrei do primeiro professor aqui citado, que afirmou sabiamente uma vez: “escrevemos para que outros nos leiam”. Mas, quem são ‘os outros’ para os filósofos?
Pois bem, acredito nisso também, afinal, vivo da escrita há mais de 20 anos e espero que já tenha sido ‘lida’ por muitos (leia texto nesse blog intitulado “O ato de escrever”). Eu escrevo pretensiosamente para que todos me leiam e não apenas um grupo seleto.
Contudo, ao escrever, sempre temos um alvo, que pode ser um grupo ou um ser único, porém, no fundo, queremos que todos nos leiam e compartilhem da nossa opinião ou, quando não, nos afronte, porque é nesse exato momento que evoluímos; a ‘discussão’ nos leva à reflexão, mesmo que posteriormente ao ‘jogo de linguagem’, tão bem definido por Wittgenstein.
Wittgenstein me provoca. Me instiga e me causa um certo desconforto quando percebo que ele, com seu ‘Tractatus’ ou ‘Investigações’, coloca em cheque a minha paixão: a linguagem. Com ele, talvez erroneamente, percebo que a linguagem pode ser traiçoeira, apesar de parecer tão inofensiva.
... E eu que a achava tão precisa, bastava ter clareza.. mas o que é ser ‘claro’ na linguagem? Será que construir as frases na forma direta basta? Ou seria melhor inverter essa forma? Ao ler cada aforismo de suas obras – atualmente, estou devorando 'Investigações Filosóficas' – tento me colocar em seu lugar para me aproximar o mais que posso da compreensão. Tarefa difícil e, confesso, não tenho tido muito sucesso. A cada releitura uma nova descoberta, que, muitas vezes, contradiz a anterior. Seria esse o papel da Filosofia? Não sei... terei que ler, pelo menos, 150 vezes cada novo texto de diferentes autores para tentar responder, segundo um terceiro professor.
Se Wittgenstein fosse vivo, eu mandaria um e-mail a ele – embora duvide que ele teria um computador – contando que a sua obra não me poupa o trabalho de pensar, mas, sim, me leva a pensar, como era o que desejava causar em seus leitores, expresso no prefácio da obra 'Investigações'.
O que sei é que nada sei e que nem sempre pensar revela que existo, afinal, tudo pode ser um sonho, se assim eu acreditar.
Qual a resposta para minha pergunta inicial? Bem, pergunte a Wittgenstein.. E você só vai saber a resposta se mergulhar em sua filosofia.

(escrito em 19/2/09)

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