segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Mudar: quando, como e porque


Mudar é sempre um grande desafio para aqueles que experimentam a mesmice da vida e os atos repetitivos.Porém é importante avisar aos menos desavisados que mudar é algo tão complicado, que é preciso coragem, muita coragem. Alguns até tentam, mas no meio do caminho correm de volta para a linha de largada e ficam paralisados, aceitando o conforto que é não mudar.

Sim!

Não mudar pode ser confortante. Afinal, o desconhecido é muito perigoso, mesmo que esse perigo signifique ter uma vida mais "contata". O que significa ter uma vida mais contata?

É ter histórias felizes, não felizes, mas histórias que fogem ao senso comum; histórias de quem lutou muito para chegar ao objetivo maior que é estar aqui e ter uma vida que realmente valha a pena e que mereça ser contata e revivida sempre.
Quando decidi transformar a minha vida, usei o grande Nietzsche para me orientar e sua Lei do Eterno Retorno.

Fechei os meus olhos e me perguntei: “Se eu tivesse que viver todos os momentos da minha vida novamente e sem mudar absolutamente nada, nenhuma frase, respiro, alegria, tristeza, enfim, repetidamente, eu gostaria disso?”

Foi uma resposta muito complexa. Isso porque alguns momentos eu gostaria de reviver e outros não, claro. No entanto, percebi que eu tinha mais momentos que não gostaria de revivê-los do que os que gostaria de reviver.

Portanto, no dia que completei 49 anos percebi que estava entrando na outra metade da minha vida e decidi que cada ano a mais vivido deveria valer a pena ser revivido repetidamente, se assim fosse preciso.

Mas confesso que o meu processo de transformação começou bem antes de 2014; na verdade foi em 2011, quando decidi que chegara a hora de enfrentar as minhas mazelas. E lá fui eu para a terapia – a melhor decisão que tomei na minha vida. Descobri o que todos sabemos, mas não admitimos: somos nossos grandes amigos, mas também podemos ser o nosso algoz.

Para me proteger nesse momento tão delicado, decidi fechar o meu coração. Deixei-o em paz, sem dono, nem eu me sentia dona do meu próprio coração. Aprendi a diferença entre solidão e solitude e adoro repedir que solidão é a dor de quem está sozinho, e solitude e o prazer de estar só. 

E eu adoro desfrutar da solitude.

E mudei!

Mudei minha relação com o trabalho, com as pessoas do trabalho. Claro que a primeira imagem é sempre a que fica. No começo ficava irritada porque as pessoas não conseguiam (e ainda não conseguem) enxergar o quanto mudei. É mais fácil lidar com a pessoa que eu era, pois aquela era previsível e sempre foi plateia para quem precisava justificar o seu mau dia e suas mazelas. Ou seja, eu entrava em qualquer jogo.

E não se iludam. A maioria das pessoas não deseja que você mude, porque algumas delas precisam se calcar na pessoa que você era. Hoje deixo o barco correr. Às vezes, o outro até tenta despertar o meu eu antigo, mas eu respiro fundo e não entro nesse jogo. A vida é mais preciosa do que isso. E confesso que não tenho mais idade, nem paciência, para lutas que não levam a absolutamente nada.

Nas minhas relações familiares aprendi a lidar com a diversidade. E quando alguém começa a jogar, eu me retiro do jogo, o que sempre deixa o outro furioso, mas isso é um problema do outro e não meu.

Aprendi que eu não preciso de muitas pessoas ao meu lado e no final quero ter apenas pessoas que realmente valham a pena. E são poucas.

E o amor!

Ah o amor! 

Descobri que eu preciso e o quero na minha vida. E depois de tantas mudanças, chegara o momento de olhar para o meu coração e descobrir do que ele precisava para bater mais forte.

Mas dessa vez de uma maneira diferente. Sem dependências. Sem carências. Sem cobranças.

Era (é) preciso buscar alguém que me desafiasse, no bom sentido.
Alguém que me fizesse pensar.
Alguém que eu não visse o tempo passar, mas também alguém que não tivesse medo de viver o que deve e precisa ser vivido.
Alguém que aceitasse o meu convite de andar comigo numa beira de estrada ensolarada que eu achei para caminhar, mesmo que não sejam todos os dias e nem pra sempre.
Alguém que quisesse abusar do meu conforto em alguns portos que eu ancorasse.
Alguém que aceitasse criar um mundo só nosso; um mundo que só existisse pra nós e, que no momento em que saíssemos desse mundo, ele ficaria ali esperando novamente por nós.
Sem culpas. Sem preconceitos. Sem jogos.
Alguém que preenchesse um espaço, mas não o ocupasse.

Observação: Ló Borges, peguei emprestada uma de suas músicas para compor parte desse texto: Sonho Real.

Nenhum comentário: