segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Geração Y precisa acordar!


A Geração Y tem me causado perplexidade a cada dia. São fantásticos ao lidar com os avanços tecnológicos, aprendem com tanta facilidade, que nos dão um banho. E eu fico feliz, porque, quando tenho dúvidas, chamo um Y e sou salva. São ousados e dinâmicos. Também são donos de uma mente que pensa rápido, e isso é muito bom, principalmente e justamente porque vivemos em um mundo tão rápido, que os que levam muito tempo pra pensar perdem o “bonde” (essa é uma expressão de uma geração bem anterior à minha).

No entanto, o que percebo ao lidar com os Ys no ambiente de trabalho é que não estão preparados para o “NÃO”. Ser chamados à atenção é uma afronta, e não conseguem lidar com a crítica. Estão tão acostumados à comunicação via máquinas, ou seja, impessoal, que se você subir um pouco o tom de voz é taxado imediatamente de agressivo e grosseiro. E ai de você se for uma pessoa com personalidade forte e tipicamente “italiana”!

Não sabem distinguir do “ser firme” de ser grosseiro ou agressivo!

A culpa, em parte, é dos pais, que pertencem à minha geração. Esses pais se sentiram tão culpados por terem que “ganhar o pão nosso de cada dia”, que encheram essa geração de presentes, de atividades e, com medo de serem reprovados como pais, elogiaram e passaram a mão na cabeça de seus filhos, mesmo quando estavam errados e saindo do limite do “respeito ao próximo”, e até do respeito a eles: os pais. Nada foi negado aos Ys!

E assim, a Geração Y cresceu acostumada a conseguir tudo que quer e, quando não consegue por motivos, muitas vezes, financeiros, acredita que merece tudo e que deve obter esse tudo sem muito esforço, só porque simplesmente nasceu, ou porque a mídia disse que se não conseguir tal resultado é o fracasso pessoal.

Consequentemente, os Ys cresceram convictos – devido à autoestima elevadíssima estimulada por pais e familiares e endossada pela mídia – que vão iniciar a carreira no topo e, portanto, qualquer obstáculo deve ser eliminado. Ou seja, não se sujeitam às tarefas menores de início de carreira e lutam por salários maiores. Qualquer cem reais a mais está valendo. Ou no primeiro obstáculo ou crítica se mandam.

Resultado: trocam de empregos com facilidade, não construindo nenhum histórico. Não se comprometem com a empresa onde estão. Chegam a pedir demissão por e-mail e a abandonar trabalhos importantes, sem nenhum respeito à empresa que estão deixando. E o que é pior: muitos chefes que pertencem a minha geração têm tanto medo dos Ys, que fazem de conta que nada acontece, estimulando ainda mais essa autoestima fabricada e frágil. Ou melhor, tratam seus colaboradores da Geração Y, como tratam os seus filhos: relevando!

Os Ys utilizam aparelhos celulares de alta tecnologia e estão nas mais modernas redes sociais. Mas o que menos sabem fazer é “SE COMUNICAR”. Por ser uma geração digital, não lidam com facilidade com diferentes tipos de pessoas, porque só conseguem reconhecer os Ys e suas vidas perfeitamente editadas, assim como os posts que divulgam em suas redes sociais. Nesse mundo, todos são perfeitos.

E eles acreditam nisso!

As consequências dessas crenças são as expectativas elevadas dos Ys em relação ao ambiente de trabalho e ao fruto do seu trabalho. Acham-se especiais e se comparam com os outros Ys, sempre considerando a vida alheia perfeita.

O problema dos Ys começa quando se depara com uma empresa na qual a gestão não tem medo deles e os consideram pessoas normais, capazes de erros e acertos. Brilhantes, talentosos, mas que ainda precisam se moldar às regras de mercado.

Outro dia, comentei com uma Y que, quando eu era foca (jornalista em começo de carreira), o meu editor, Hirão Tessari, lia o meu texto segurando uma caneta vermelha e não tinha pena de escrever que o texto estava horrível e que eu precisava refazê-lo inteiro. E tem um detalhe: nessa época eu escrevia em uma máquina de escrever em folha-jornal, portanto, não tinha como aproveitar o texto; era preciso mesmo refazê-lo.

Perdi as contas de quantas vezes eu saí da sala dele abalada e chorei no banheiro. Mas fui criada para nunca desistir e superar os desafios. Sendo assim, lavava o rosto, e voltava à máquina para refazer o meu trabalho, sempre procurando me lembrar das informações que ele passava do porquê o texto não estava bom. A Y ficou tão chocada, que disse que não aguentaria e iria embora.

Foi um dos melhores aprendizados que tive. Até hoje – mais de 20 anos depois – eu ainda me pego revendo um texto e lembrando que, segundo Hirão Tessari, não deveria escrever daquela forma. E volto ao texto e refaço-o. Tudo bem, Hirão era exagerado!

Outro editor importante em minha vida: Charles Magno. Ele não era tão assustador quanto Hirão, mas era firme. Ao ler os meus textos sempre criticava alguma coisa e eu ouvia atentamente. E na época eu já tinha mais de 10 anos de carreira, porém, sempre o ouvi. E hoje, Charles Magno também é uma referência na hora que escrevo, faço um relatório ou elaboro um planejamento. Ele era firme!

Para os Ys, com certeza, Hirão Tessari seria taxado de louco, e Charles Magno de grosseiro. Nada disso, eram (e são) profissionais, e dos bons! Pessoas com quem aprendi muito e agradeço cada crítica que me fizeram, mesmo de forma dura. 

Crescer não é fácil! 

Os Ys  têm tudo para serem realmente a Geração que modificará o mundo! Mas precisam entender que são humanos e realmente se humanizarem.

Não falo de se humanizar nas redes sociais compartilhando frases que nunca colocam em prática, mas se comunicando com todas as gerações e percebendo que o mundo é imperfeito, assim como as pessoas e que nem tudo será cor de rosa!


Apesar de tudo, eu quero acreditar na Geração Y!

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