domingo, 24 de março de 2013

Por que é tão dificil se "despedir"?



Ontem, após uma festa maravilhosa, decidi ver “As aventuras de Pi” (Life of Pi), filme vencedor de quatro estatuetas (Oscar), incluindo a de melhor diretor para Ang Lee. Certamente foi uma das últimas histórias mais bonitas e sensíveis que vi.


No começo, pareceu-me arrastada, cheia de efeitos especiais – até me perdi e me cansei com tantos efeitos -, mas conforme a história foi se desenrolando, ou seja, conforme as “aventuras” do jovem Pi (Piscina Patel), que acaba passando mais de 200 dias no mar, após o naufrágio do cargueiro que levaria ele e sua família da Índia para o Canadá, fui me encantando e me emocionando verdadeiramente com a coragem e a determinação desse jovem pela sobrevivência, e sua luta para enfrentar e manter os seus costumes e valores indianos.
Ele se vê em um bote com uma zebra, um orangotango (fêmea) e o famoso tigre de bengala, Richard Parker. As metáforas são muitas e, por isso, é preciso prestar muito a atenção para não se perder em meio aos efeitos especiais.
Digo que precisamos assisti-lo mais de uma vez, porque, sabiamente, o roteiro só é desvendado nos minutos finais do filme, por isso, durante toda a aventura, fiquei meio perdida na luta física e mental do jovem indiano.
Enquanto o adulto Pi conta sua história a um escritor, não dá pra saber o que é verdade ou imaginação -- me lembrou um pouco a sensação que tive ao assistir “Peixe Grande”, de Tim Burton, e o seu final surpreendente.
O que representa a zebra, a hiena, a orangotando e o tigre para o jovem é fascinante. E como ele decidiu entender essa tragédia é uma verdadeira lição de vida. Foi então, também, que me lembrei de uma querida psicóloga amiga, que ao contar pra ela sobre um problema que estava passado, ela me disse sabiamente: “A dor é pra sempre, mas o sofrimento é opcional”.
O que me marcou desde o início da narração do adulto Pi foi que em várias passagens ele repetiu para o escritor  algo muito interessante: “eu percebi que não me despedi”. Ele não havia se despedido do grande amor que deixou na Índia, da família que perdeu no naufrágio e, por fim, do Tigre, seu companheiro de aventuras.
Essa sua angústia me emocionou tanto, que me perguntei: Por que o ser humano não se despede nunca?
Será que acreditamos sempre em reencontros? Ou seja, carregamos a certeza que a vida vai nos proporcionar esses reencontros para que possamos nos despedir e falar sobre nossos sentimentos para o outro?  Não sei, mas talvez nunca nos despedimos (ou a maioria não se despede) por medo, talvez por insegurança ou talvez por esperança. Mas, na verdade, nunca nos despedimos no sentido de nos desvelar ao outro, e esse desvelamento é fundamental para uma vida feliz. Acredito! Isso não quer dizer que seja uma verdade, mas pra mim é uma verdade importante, por enquanto.
Ao longo do filme, fui percebendo que também não me despedi de muita coisa e isso me trouxe uma sensação de vazio e saudades. Saudades da minha infância, da minha adolescência, da minha juventude e até de acontecimentos muito recentes. Quanto tempo perdido com orgulho e certezas que, com o tempo, vamos descobrindo que de certo não têm nada.
De todas as metáforas desse belo filme, duas me chamaram mais a atenção: a da ilha, que, pra mim, representa a vida, que nos dá tanta coisa, mas se não tivermos cuidado pode se transformar em algo ácido e nos aniquilar; e a do Tigre...
... mas essa, para vocês entenderem, será preciso assistir ao filme. Caso contrário, irei estragar a grande surpresa do final.
A lição mais importante que revi com o Pi foi que todas as situações pelas quais  passamos podem ser vistas de muitas maneiras e dependendo da maneira que as vemos, nossa vida pode ser boa ou ruim.
Ou seja: A DOR É PRA SEMPRE, MAS O SOFRIMENTO É OPCIONAL.

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