segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sócrates em busca da verdade sobre o conhecimento

Em Teeteto, Platão nos convida a uma tentativa de descobrir a verdade sobre o conhecimento por meio de um diálogo entre Sócrates e Teeteto. Logo nas primeiras falas de Sócrates com Teodoro – quem o apresenta ao jovem Teeteto – percebemos um Sócrates preocupado com a educação dos atenienses.

É do que sempre procuro informar-me com o maior empenho, e para isso interrogo as pessoas cuja companhia eles frequentam. (...)Por isso, caso tenhas encontrado algum jovem digno de menção, com muito prazer ouvirei o que disseres. (PLATÃO. 360 a.C, On-line)





Todo o texto é caracterizado pelo método socrático: a dialética. A discussão se desenvolve seguindo os preceitos do Protéptico, que convida o seu parceiro a praticar ‘o filosofar’, por meio da estimulação; o Élenkhos, que é a indagação e permite uma integração e desenvolvimento da ideia ali proposta lado a lado, ou seja, junto com o interlocutor; e, claro, não poderia faltar um toque de Ironia, que reforça o questionamento sobre cada pensamento ali exposto; e, por fim, a Maiêutica, quando Sócrates delibera o seu particular método de filosofar ao compará-lo à arte da parteira (profissão de sua mãe). Enquanto as parteiras ajudam a dar (mostrar) a luz aos seres humanos que chegam ao mundo, Sócrates auxilia a todos no parto das ideais. Explicando: Sócrates procura levar o seu interlocutor até a ‘luz do conhecimento’. Luz essa tão bem definida no Mito da Caverna, do autor de Teeteto.


A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das parteiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, sem seu trabalho de parto.(...)a grande superioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro. . (PLATÃO. 360 a.C, On-line)

Antes de esmiuçarmos um pouco mais o que seria a Maiêutica de Sócrates, é importante esclarecer o que chamamos de Ironia, presente nos diálogos entre Teeteto e Sócrates. No contexto analisado, a significação da palavra está longe do conceito que temos dessa palavra nos tempos modernos. Aqui, Ironia é uma eficiente estratégia para desarmar as teorias do interlocutor e levá-lo à reflexão sobre os seus conceitos.  
A Maiêutica socrática é um artifício dialético nitidamente inatista, caracterizado durante os diálogos. Sócrates parte dos conceitos apresentados pelo seu interlocutor e, por meio de um diálogo inteligente e questionador todo o tempo, leva-o a cair em contradição ao argumentar suas ideias. Percebemos que Sócrates defende uma de suas mais conhecidas citações com o Teeteto: “Sei que nada sei”. E procura levar o jovem estudante a reconhecer a sua própria ignorância sobre o ‘saber’ (conhecimento).
Em um primeiro momento, a investigação acerca do conhecimento dá-se sobre as teorias de Protágoras, que afirmou: “o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são das coisas que não são, enquanto não são”. Ora, isso significa que as coisas são conhecidas de forma individual, ou seja, por cada indivíduo, e essa ideia é justamente o oposto do projeto de Sócrates que defende ser possível chegar ao conceito absoluto de cada coisa.
E é por meio de Élenkhos que percebemos uma profunda análise seguida de discussão sobre o argumento da auto-refutação. Portanto, no deslanchar dos diálogos, notamos argumentos contra o relativismo, também presente nas teorias dos sofistas, que, mais adiante, terão sua filosofia acerca do conhecimento atacada por Sócrates.
Protagóras tem como base para construir suas teorias o pensamento de Haráclico e chegamos, aqui, no segundo momento do texto que critica severamente a teoria do fluxo do filósofo que problematizou a questão do devir (mudança). E, principalmente, a ciência do conhecimento não pode ser identificada com a sensação ou com qualquer coisa que se reduza a ela. Isso seria negar a ciência.

Se a verdade para cada indivídulo é o que ele alcança pela sensação; se as impressões de alguém não encontram melhor juiz senão ele mesmo, e se ninguém tem autoridade para dizer se as opiniões de outra pessoa são verdadeiras ou falsas(....)de que jeito, amigo, Priotágoras terá sido sábio a ponto de passar por digno de ensinar os outros(....)e por que razão teremos nós de ser ignorantes e de frequentar sua aulas, se cada um for a medida de sua própria sabedoria? . (PLATÃO. 360 a.C, On-line)

Portanto, o devir universal de Heráclico e o homem é a medida de todas as coisas de Pritágoras defendem que o homem não pode conhecer nada que esteja fora da impressão do fluxo de coisas, tornando, assim, o conhecimento puramente pessoal e jamais absoluto. 
Sócrates mostra a Teeteto que o conhecimento está além da opinião e da razão. O conhecimento é a busca do saber, mas jamais o saber. Por mais que pensamos saber sobre alguma coisa, nosso conhecimento é limitado ao nosso processo de aprendizado e está prezo aos nossos ‘pré-conceitos’. Os diálogos entre Sócrates e o jovem Teeteto apresentam, por meio da dialética, que jamais poderemos chegar à verdade, apenas nos aproximaremos, porque sempre estaremos questionando e sendo questionados sobre todas as coisas.
A obra é uma severa crítica de Platão à teoria do fluxo de Heráclico e ao relativismo sensorial de Protágoras e dos sofistas. Estabelece que o grande engano de Heráclico foi confundir o sensível com o que é inteligível; e o visível do que é impossível de ser visto. E é justamente nessa diferença que se baseia toda a teoria do conhecimento de Platão, que preza a dialética como método e uma importante ferramenta de investigação da origem do conhecimento ou ‘a busca do saber’.


Bibliografia
PLATÃO. Teeteto. Acrópolis http://br.egroups.com/group/acropolis. Acesso e impressão: 14/08/2004

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