Tenho um lindo sobrinho de dez anos que é extremamente
divertido e tem tiradas muito peculiares para diferentes situações. Outro dia,
minha irmã (sua mãe) me contou que ele estava muito bravo porque ela o teria repreendido
por algo que ele fizera, e como essa “braveza” já durava muitos dias, ela
perguntou: “o que eu fiz para você estar tão bravo ainda?” Ele não teve dúvidas
e respondeu quase imediatamente: “Você nasceu!”
Vindo de uma criança é algo engraçado e que comentamos
como até “esperteza” nas reuniões de família, e só. Mas quando atitudes infantis como essa e outras vêm de
adultos, é preciso muita atenção e preocupação.
Adultos infantilizados têm sido uma constante em
consultórios psicanalíticos e psiquiátricos. Embora eles não tenham a noção
dessa característica de personalidade, os profissionais que os atendem logo
conseguem identificá-los, principalmente devido a suas queixas e fixações por
algo, alguém ou situações que deveriam ser levadas a sério ou não tão a sério.
Mas independentemente de serem sérias ou não, consomem
praticamente o dia todo desses indivíduos, que ficam planejando como contra-atracar
quem ou o que os contrariaram ou os desafiaram, desperdiçando precioso tempo buscando
culpados, quando deveriam direcionar seus esforços para se resgatarem de
suas condições infantilizadas.
Os adultos infantilizados, capazes de atitudes que nos
deixam perplexos e até desconcertados – eu diria que quando eles agem até
saboreamos aquele sentimento de “vergonha alheia” – negam a realidade na maioria
do tempo, sobretudo quando são
confrontados com fatos, ou então contraditos.
Essa negação é um artifício que esses indivíduos usam para
fugir da dor do crescimento. Contudo, apesar de parecerem inofensivos porque
chegam a ser “bizarros”, é preciso muita atenção, porque, assim como indivíduos
acometidos pela esquizofrenia e pela bipolaridade (essa última em moda), necessitam
de tratamento.
Os adultos infantilizados apresentam uma personalidade vitimizada
pelo retrocesso espiritual, emocional e intelectual. Percebem as situações e os
fatos de maneira distorcida, incompleta e superlativa e, com isso, têm crises exageradas
de ansiedade diante do desafio natural de existir, tornando-se, assim, como as crianças, vingativos. Porém, crianças grandes, vingativas e traiçoeiras, por terem mais
capacidade de articulação intelectual.
Mas apesar dessa capacidade intelectual, após “planejarem o
seu golpe”, que julgam vingativo, agem como crianças de dez anos, ou menos,
rindo da ação que executaram, considerando que “deram o troco e saíram vitoriosos da
situação”. Quando na realidade a ação só causou perplexidade e a constatação
do tamanho da patologia. E o que é pior: na maioria das vezes, as pessoas
que estão a volta desses indivíduos - amigos, familiares, colegas profissionais – percebem a
situação, mas não têm coragem de alertá-los.
Outra característica que acompanha a personalidade dos
indivíduos infantilizados é a vaidade; gostam de ser o centro das atenções e de
terem seus egos afagados por elogios ou reconhecimento de seus feitos. Por isso,
são capazes de enaltecerem todas as situações das quais participam e esperam
comentários repletos de louvores.
São pessoas com grandes dificuldades de cumprirem regras e aceitarem limites e, por isso, acusam pessoas e fatos exteriores pelo
que lhes acontecem. Ou seja, não se sentem responsáveis por nada e se sentem
vítimas de todos e de tudo. É muito comum os adultos infantilizados dizerem que estão sendo perseguidos e ameaçados por aqueles que os contrariaram, porque necessitam o tempo todo da aprovação do "mundo", assim como as crianças que buscam a todo tempo a aprovação dos pais.
E o mais grave: diferentemente da criança, por não
encontrarem no meio em que vivem limites, por não ouvirem ninguém, praticam ações
irresponsáveis e nocivas tanto para si, quanto para outros.
Lembrem-se: adultos infantilizados precisam de tratamento!
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