Ontem, após uma festa maravilhosa, decidi ver “As aventuras
de Pi” (Life of Pi), filme vencedor de quatro estatuetas (Oscar), incluindo a de
melhor diretor para Ang Lee. Certamente foi uma das últimas histórias mais
bonitas e sensíveis que vi.
No começo, pareceu-me arrastada, cheia de efeitos especiais –
até me perdi e me cansei com tantos efeitos -, mas conforme a história foi se
desenrolando, ou seja, conforme as “aventuras” do jovem Pi (Piscina Patel), que
acaba passando mais de 200 dias no mar, após o naufrágio do cargueiro que
levaria ele e sua família da Índia para o Canadá, fui me encantando e me
emocionando verdadeiramente com a coragem e a determinação desse jovem pela
sobrevivência, e sua luta para enfrentar e manter os seus costumes e valores indianos.
Ele se vê em um bote com uma zebra, um orangotango (fêmea) e
o famoso tigre de bengala, Richard Parker. As metáforas são muitas e, por isso,
é preciso prestar muito a atenção para não se perder em meio aos efeitos
especiais.
Digo que precisamos assisti-lo mais de uma vez, porque,
sabiamente, o roteiro só é desvendado nos minutos finais do filme, por isso,
durante toda a aventura, fiquei meio perdida na luta física e mental do jovem
indiano.
Enquanto o
adulto Pi conta sua história a um escritor, não dá pra saber o que
é verdade ou imaginação -- me lembrou um pouco a sensação que tive ao
assistir “Peixe Grande”, de Tim Burton, e o seu final surpreendente.
O que representa a zebra, a hiena, a orangotando e o tigre
para o jovem é fascinante. E como ele decidiu entender essa tragédia é uma
verdadeira lição de vida. Foi então, também, que me lembrei de uma querida
psicóloga amiga, que ao contar pra ela sobre um problema que estava passado, ela
me disse sabiamente: “A dor é pra sempre, mas o sofrimento é opcional”.
O que me marcou desde o início da narração do adulto Pi foi
que em várias passagens ele repetiu para o escritor algo muito interessante: “eu
percebi que não me despedi”. Ele não havia se despedido do grande amor que
deixou na Índia, da família que perdeu no naufrágio e, por fim, do Tigre, seu
companheiro de aventuras.
Essa sua angústia me emocionou tanto, que me perguntei: Por
que o ser humano não se despede nunca?
Será que acreditamos sempre em reencontros? Ou seja, carregamos
a certeza que a vida vai nos proporcionar esses reencontros para que possamos
nos despedir e falar sobre nossos sentimentos para o outro? Não sei, mas talvez nunca nos despedimos (ou a
maioria não se despede) por medo, talvez por insegurança ou talvez por
esperança. Mas, na verdade, nunca nos despedimos no sentido de nos desvelar ao
outro, e esse desvelamento é fundamental para uma vida feliz. Acredito! Isso
não quer dizer que seja uma verdade, mas pra mim é uma verdade importante, por
enquanto.
Ao longo do filme, fui percebendo que também não me despedi
de muita coisa e isso me trouxe uma sensação de vazio e saudades. Saudades da
minha infância, da minha adolescência, da minha juventude e até de acontecimentos muito recentes. Quanto tempo
perdido com orgulho e certezas que, com o tempo, vamos descobrindo que de certo
não têm nada.
De todas as metáforas desse belo filme, duas me chamaram
mais a atenção: a da ilha, que, pra mim, representa a vida, que nos dá tanta
coisa, mas se não tivermos cuidado pode se transformar em algo ácido e nos aniquilar;
e a do Tigre...
... mas essa, para vocês entenderem, será preciso assistir ao filme. Caso
contrário, irei estragar a grande surpresa do final.
A lição mais importante que revi com o Pi foi que todas as situações
pelas quais passamos podem ser vistas de muitas maneiras e dependendo da maneira que as
vemos, nossa vida pode ser boa ou ruim.
Ou seja: A DOR É PRA SEMPRE, MAS O SOFRIMENTO É OPCIONAL.
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