quinta-feira, 7 de junho de 2012

O texto tem a interpretação de quem o lê

"Cada homem deve inventar o seu caminho"
 (Jean-Paul Sartre)
Sei que já falei sobre o tema em outro post, mas sem querer ser redundante, acho importantíssimo repetir essa minha constante afirmação de que "o texto sempre tem a interpretação de quem o lê e dificilmente de quem o escreve". Confesso não saber mais se a citação é de algum autor ou se é minha; já a uso há tanto tempo, que a absorvi. Por isso, peço desculpas ao possível autor e licença para continuá-la usando sempre que perceber essa verdade, não absoluta, claro, mas uma importante verdade.
Mas nesse meu novo post, achei interessante analisar melhor o porquê essa "verdade" acontece com certa frequência. Vários podem ser os motivos. Entre eles, destaco: o texto não condiz com a faixa etária ou momento de vida de quem o lê, portanto o leitor se dispersa e acaba assimilando apenas o que acredita entender; o texto é muito rebuscado e, cá entre nós, às vezes, nem o autor entende após escrevê-lo; ou então, porque quem o lê não quer assimilar o fato implícito no texto. Melhor explicando: as questões ou conceitos apresentados mexem com o âmago do leitor, e esse não está preparado para enfrentar, embora no seu pré-consciente entenda perfeitamente o que o autor quis dizer. Porém, concordar com quem escreve exige uma reflexão que esse leitor não está disposto a fazer naquele momento. Até aí, eu acho interessante, afinal, cada ser humano tem que saber o seu exato momento de "virar a própria vida".


"Não me pergunte quem sou
 e não me diga para permanecer o mesmo"

(Michel Foucault)
Confesso que a primeira vez que li Foucault, aos 18 anos, discordei em tudo com ele. Achei que ele estava completamente errado. E na minha ignorância fui seguindo afirmando que não gostava do autor. No entanto, fui relê-lo muitos anos depois, e fiquei maravilhada. Óbvio: com 18 anos não estava preparada para mexer em conceitos que foram impostos para mim, e as afirmações do autor me deixaram confusa, porque no meu âmago, eu sabia que eram verdades que eu deveria enfrentar e "revolucionar na minha vida".
"Tudo aquilo que não enfrentamos em vida
acaba se tornando o nosso destino"
Carl Jung, também definiu o pré-consciente.
Agora, o que é intrigante e exige sim uma reflexão de todos, independentemente de sermos autores e/ou leitores, é quando esse leitor, além de não compreender o texto, debate com o autor, mas não de uma maneira inteligente e saudável, ou seja, contra-argumentando, mas tentando provar para o autor que a sua interpretação é a correta e afirmando como se fosse "o senhor absoluto da verdade" do outro, ou seja, querendo transforma a sua verdade (não real) na verdade do outro. E o que é pior: expondo o leitor para autoafirmar a verdade que insiste em acreditar, mesmo que o seu pré-consciente acredite em cada palavra e esteja querendo levá-lo ao seu inconsciente para, mais tarde, revolucionar a sua própria vida.
Por que estou contanto essa historinha?
Porque os meus dois mais recentes textos O amor romântico deve morrer para nascer o amor-verdade (26/5/2012) e Identidade, intimidade e o beijo (1/6/2012) causaram muitos comentários; 99,99% positivos, alguns até enviaram os textos aos seus amigos, o que agradeço muito. Mas eu tive um leitor que realmente fez um reboliço sem propósito e que eu achei interessante escrever sobre, para melhor explicar a todos que me perguntam sobre a minha constante afirmação mencionada no começo desse post.
Escrever é uma arte, mas entender a essência de um texto e aceitá-lo, mesmo quando não concordamos com o mesmo, é sabedoria.
Em outro post publicado aqui em 23 de novembro de 2008 (O ato de escrever), eu desenrolo o texto a partir de uma citação de Jean-Paul Sartre, que dizia que "escrever é um ato solitário". E acrescentei:
 " É a mais pura verdade e, talvez, um dos atos mais solitários que praticamos. Uma solidão maravilhosa. Um momento para nos conhecer. Um momento único da própria contemplação. Escrever é o melhor exercício que a mente desenvolve. É a 'tangibilização' dos pensamentos. É o reflexo do nosso espelho interior."

"Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue a sua alegria,  a sua paz, a sua vida nas mãos de ninguém,  absolutamente ninguém" (Aristóteles) 
Não posso afirmar que essa "sensação" está presente em todos que escrevem, mas em mim, com certeza. Portanto, quando me sento aqui e decido escrever algo, é como se eu estivesse conversando comigo e com todos os autores importantes que passaram diante dos meus olhos e ficaram gravados na minha "anima".
Mas esses leitores inconformados com as nossas colocações, com certeza, são mais importantes do que os que nos enaltecem (claro que adoro todos que me elogiam, afinal, eu sou humana, demasiada humana). No então, são os leitores que não concordam e que se setem ofendidos, que nos provam que estamos no caminho certo, ou seja, remexendo com conceitos cravados neles que deveriam ser revolucionados.
Infelizmente, a grande maioria permanecerá preso aos velhos conceitos que os tornam tão previsíveis, mas mesmo assim, me animo cada vez mais a continuar a expor as minhas ideias, e espero que muitos leitores sejam como esse, afinal qual é mesmo o objetivo de expressar pensamentos?


"E viva a liberdade de expressão!
E viva a liberdade de podermos contar nossas verdades!
E viva a libertação que o ato de escrever nos proporciona!
Apesar de toda a limitação da linguagem, o ato de escrever ainda é uma tentativa de superação!" (O Ato de Escrever)

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