A Geração Y tem me causado perplexidade a cada dia. São
fantásticos ao lidar com os avanços tecnológicos, aprendem com tanta
facilidade, que nos dão um banho. E eu fico feliz, porque, quando tenho
dúvidas, chamo um Y e sou salva. São ousados e dinâmicos. Também são donos de
uma mente que pensa rápido, e isso é muito bom, principalmente e justamente
porque vivemos em um mundo tão rápido, que os que levam muito tempo pra pensar
perdem o “bonde” (essa é uma expressão de uma geração bem anterior à minha).
No entanto, o que percebo ao lidar com os Ys no ambiente de
trabalho é que não estão preparados para o “NÃO”. Ser chamados à atenção é uma
afronta, e não conseguem lidar com a crítica. Estão tão acostumados à
comunicação via máquinas, ou seja, impessoal, que se você subir um pouco o tom
de voz é taxado imediatamente de agressivo e grosseiro. E ai de você se for uma
pessoa com personalidade forte e tipicamente “italiana”!
Não sabem distinguir do “ser firme” de ser grosseiro ou
agressivo!
A culpa, em parte, é dos pais, que pertencem à minha
geração. Esses pais se sentiram tão culpados por terem que “ganhar o pão nosso
de cada dia”, que encheram essa geração de presentes, de atividades e, com medo
de serem reprovados como pais, elogiaram e passaram a mão na cabeça de seus
filhos, mesmo quando estavam errados e saindo do limite do “respeito ao próximo”,
e até do respeito a eles: os pais. Nada foi negado aos Ys!
E assim, a Geração Y cresceu acostumada a conseguir tudo que
quer e, quando não consegue por motivos, muitas vezes, financeiros, acredita
que merece tudo e que deve obter esse tudo sem muito esforço, só porque
simplesmente nasceu, ou porque a mídia disse que se não conseguir tal resultado é o fracasso pessoal.
Consequentemente, os Ys cresceram convictos – devido à autoestima
elevadíssima estimulada por pais e familiares e endossada pela mídia – que vão
iniciar a carreira no topo e, portanto, qualquer obstáculo deve ser eliminado.
Ou seja, não se sujeitam às tarefas menores de início de carreira e lutam por
salários maiores. Qualquer cem reais a mais está valendo. Ou no primeiro obstáculo ou crítica se mandam.
Resultado: trocam de empregos com facilidade, não
construindo nenhum histórico. Não se comprometem com a empresa onde estão.
Chegam a pedir demissão por e-mail e a abandonar trabalhos importantes, sem
nenhum respeito à empresa que estão deixando. E o que é pior: muitos chefes que
pertencem a minha geração têm tanto medo dos Ys, que fazem de conta que nada
acontece, estimulando ainda mais essa autoestima fabricada e frágil. Ou melhor,
tratam seus colaboradores da Geração Y, como tratam os seus filhos: relevando!
Os Ys utilizam aparelhos celulares de alta tecnologia e
estão nas mais modernas redes sociais. Mas o que menos sabem fazer é “SE
COMUNICAR”. Por ser uma geração digital, não lidam com facilidade com diferentes
tipos de pessoas, porque só conseguem reconhecer os Ys e suas vidas
perfeitamente editadas, assim como os posts que divulgam em suas redes sociais.
Nesse mundo, todos são perfeitos.
E eles acreditam nisso!
As consequências dessas crenças são as expectativas elevadas
dos Ys em relação ao ambiente de trabalho e ao fruto do seu trabalho. Acham-se
especiais e se comparam com os outros Ys, sempre considerando a vida alheia
perfeita.
O problema dos Ys começa quando se depara com uma empresa na
qual a gestão não tem medo deles e os consideram pessoas normais, capazes de
erros e acertos. Brilhantes, talentosos, mas que ainda precisam se moldar às
regras de mercado.
Outro dia, comentei com uma Y que, quando eu era foca
(jornalista em começo de carreira), o meu editor, Hirão Tessari, lia o meu
texto segurando uma caneta vermelha e não tinha pena de escrever que o texto
estava horrível e que eu precisava refazê-lo inteiro. E tem um detalhe: nessa
época eu escrevia em uma máquina de escrever em folha-jornal, portanto, não
tinha como aproveitar o texto; era preciso mesmo refazê-lo.
Perdi as contas de quantas vezes eu saí da sala dele abalada
e chorei no banheiro. Mas fui criada para nunca desistir e superar os desafios.
Sendo assim, lavava o rosto, e voltava à máquina para refazer o meu trabalho,
sempre procurando me lembrar das informações que ele passava do porquê o texto
não estava bom. A Y ficou tão chocada, que disse que não aguentaria e iria embora.
Foi um dos melhores aprendizados que tive. Até hoje – mais de 20 anos depois – eu ainda me pego revendo um texto e lembrando que, segundo
Hirão Tessari, não deveria escrever daquela forma. E volto ao texto e refaço-o. Tudo
bem, Hirão era exagerado!
Outro editor importante em minha vida: Charles Magno. Ele
não era tão assustador quanto Hirão, mas era firme. Ao ler os meus textos
sempre criticava alguma coisa e eu ouvia atentamente. E na época eu já tinha
mais de 10 anos de carreira, porém, sempre o ouvi. E hoje, Charles Magno também
é uma referência na hora que escrevo, faço um relatório ou elaboro um
planejamento. Ele era firme!
Para os Ys, com certeza, Hirão Tessari seria taxado de louco,
e Charles Magno de grosseiro. Nada disso, eram (e são) profissionais, e dos
bons! Pessoas com quem aprendi muito e agradeço cada crítica que me fizeram, mesmo de forma dura.
Crescer não é fácil!
Os Ys têm tudo para serem realmente a Geração que
modificará o mundo! Mas precisam entender que são humanos e realmente se
humanizarem.
Não falo de se humanizar nas redes sociais compartilhando
frases que nunca colocam em prática, mas se comunicando com todas as gerações e percebendo que o
mundo é imperfeito, assim como as pessoas e que nem tudo será cor de rosa!
Apesar de tudo, eu quero acreditar na Geração Y!
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