Em Teeteto, Platão nos convida a uma
tentativa de descobrir a verdade sobre o conhecimento por meio de um diálogo
entre Sócrates e Teeteto. Logo nas primeiras falas de Sócrates com Teodoro –
quem o apresenta ao jovem Teeteto – percebemos um Sócrates preocupado com a
educação dos atenienses.
É do que sempre procuro informar-me com o maior
empenho, e para isso interrogo as pessoas cuja companhia eles frequentam.
(...)Por isso, caso tenhas encontrado algum jovem digno de menção, com muito
prazer ouvirei o que disseres. (PLATÃO. 360 a.C, On-line)
Todo o texto é caracterizado pelo método socrático: a dialética. A discussão se desenvolve seguindo os preceitos do Protéptico, que convida o seu parceiro a praticar ‘o filosofar’, por meio da estimulação; o Élenkhos, que é a indagação e permite uma integração e desenvolvimento da ideia ali proposta lado a lado, ou seja, junto com o interlocutor; e, claro, não poderia faltar um toque de Ironia, que reforça o questionamento sobre cada pensamento ali exposto; e, por fim, a Maiêutica, quando Sócrates delibera o seu particular método de filosofar ao compará-lo à arte da parteira (profissão de sua mãe). Enquanto as parteiras ajudam a dar (mostrar) a luz aos seres humanos que chegam ao mundo, Sócrates auxilia a todos no parto das ideais. Explicando: Sócrates procura levar o seu interlocutor até a ‘luz do conhecimento’. Luz essa tão bem definida no Mito da Caverna, do autor de Teeteto.
A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das
parteiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de
acompanhar as almas, não os corpos, sem seu trabalho de parto.(...)a grande
superioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o
que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e
falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro. . (PLATÃO. 360 a .C, On-line)
Antes de
esmiuçarmos um pouco mais o que seria a Maiêutica de Sócrates, é importante
esclarecer o que chamamos de Ironia, presente nos diálogos entre
Teeteto e Sócrates. No contexto analisado, a significação da palavra está longe
do conceito que temos dessa palavra nos tempos modernos. Aqui, Ironia
é uma eficiente estratégia para desarmar as teorias do interlocutor e levá-lo à
reflexão sobre os seus conceitos.
A Maiêutica
socrática é um artifício dialético nitidamente inatista, caracterizado durante os diálogos. Sócrates parte dos conceitos apresentados pelo seu interlocutor e,
por meio de um diálogo inteligente e questionador todo o tempo, leva-o a cair
em contradição ao argumentar suas ideias. Percebemos que Sócrates defende uma
de suas mais conhecidas citações com o Teeteto: “Sei que nada sei”. E procura
levar o jovem estudante a reconhecer a sua própria ignorância sobre o ‘saber’
(conhecimento).
Em um primeiro momento,
a investigação acerca do conhecimento dá-se sobre as teorias de Protágoras, que
afirmou: “o homem é a medida de
todas as coisas, das coisas que são, enquanto são das coisas que não são,
enquanto não são”. Ora, isso significa que as coisas são conhecidas de forma
individual, ou seja, por cada indivíduo, e essa ideia é justamente o oposto do
projeto de Sócrates que defende ser possível chegar ao conceito absoluto de
cada coisa.
E é por meio de Élenkhos que percebemos
uma profunda análise seguida de discussão sobre o argumento da auto-refutação.
Portanto, no deslanchar dos
diálogos, notamos argumentos contra o relativismo, também presente nas teorias
dos sofistas, que, mais adiante, terão sua filosofia acerca do conhecimento
atacada por Sócrates.
Protagóras tem como base para construir suas
teorias o pensamento de Haráclico e chegamos, aqui, no segundo momento do texto
que critica severamente a teoria do fluxo do filósofo que problematizou a
questão do devir (mudança). E, principalmente, a ciência do conhecimento não
pode ser identificada com a sensação ou com qualquer coisa que se reduza a ela.
Isso seria negar a ciência.
Se a verdade para cada indivídulo
é o que ele alcança pela sensação; se as impressões de alguém não encontram
melhor juiz senão ele mesmo, e se ninguém tem autoridade para dizer se as
opiniões de outra pessoa são verdadeiras ou falsas(....)de que jeito, amigo,
Priotágoras terá sido sábio a ponto de passar por digno de ensinar os
outros(....)e por que razão teremos nós de ser ignorantes e de frequentar sua
aulas, se cada um for a medida de sua própria sabedoria? . (PLATÃO. 360 a.C, On-line)
Portanto, o devir universal de Heráclico e o homem
é a medida de todas as coisas de Pritágoras defendem que o homem não pode
conhecer nada que esteja fora da impressão do fluxo de coisas, tornando, assim,
o conhecimento puramente pessoal e jamais absoluto.
Sócrates mostra a Teeteto que o conhecimento está
além da opinião e da razão. O conhecimento é a busca do saber, mas jamais o
saber. Por mais que pensamos saber sobre alguma coisa, nosso
conhecimento é limitado ao nosso processo de aprendizado e está prezo aos
nossos ‘pré-conceitos’. Os diálogos entre Sócrates e o jovem Teeteto
apresentam, por meio da dialética, que jamais poderemos chegar à verdade,
apenas nos aproximaremos, porque sempre estaremos questionando e sendo
questionados sobre todas as coisas.
A obra é uma severa crítica de Platão à teoria do
fluxo de Heráclico e ao relativismo sensorial de Protágoras e dos sofistas.
Estabelece que o grande engano de Heráclico foi confundir o sensível com o que
é inteligível; e o visível do que é impossível de ser visto. E é justamente
nessa diferença que se baseia toda a teoria do conhecimento de Platão, que
preza a dialética como método e uma importante ferramenta de investigação da
origem do conhecimento ou ‘a busca do saber’.
Bibliografia
PLATÃO. Teeteto. Acrópolis http://br.egroups.com/group/acropolis.
Acesso e impressão: 14/08/2004
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